Menu de Natal
Reunir minha família é sem dúvida o maior prazer que tenho na vida. Esse sentimento me remete à infância, quando a família para mim era uma coisa tão natural, que eu chegava a não dar muito valor. O natal, no entanto, era uma epifania. Era quando eu sentia a família. Era bem diferente dos natais de hoje, e longe de mim ser saudosista. Era simples, quase poético, com meu pai arrumando a árvore em segredo, no dia 24, com aqueles enfeites que para mim eram jóias, e com alguns dos quais eu ainda enfeito a nossa árvore. Presentes? Eram poucos, não a orgia de agora, mas amados. A ceia também não era lá essas coisas. Frugal, como eram naturalmente meus pais, mas deliciosa e com sabores e cheiros que simbolizavam a data, e simbolizam até hoje. Daquele tempo é o pão de nozes, a rabanada e as castanhas cozidas com açúcar e erva-doce. Hummm!
Quando conheci a família do Bi, um mundo gastronômico foi-me apresentado. Na época do natal, Dona Thereza, tia Maria, tia Madalena, dona Isabel e a Teresinha passavam dias preparando pratos e mais pratos tradicionais maravilhosos. Eu brinco dizendo que são pratos de povo subdesenvolvido (o! brincadeira maldosa!) porque são bastante trabalhosos, de pessoas que têm tempo a “perder”, mas todos os anos, agora, eu perco tempo fazendo essas mesmas receitas e, ai de mim se não as fizer.
Sufritto de cabrito, pizzela, grispelli, roseta, turdido, pastelzinho de natal, e, aí, eu juntei a tudo isso o pão de nozes, as castanhas, e, novidade!! comecei a preparar tender made, e perú assado , os dois pratos rodeados de guarnições e mais guarnições. É A festa.
Quem matava o cabrito era seu Luis, pai da Teresinha. Quem limpava todos os miúdos, refogava, e enchia as tripas do pobre animal era o tio Silvio. O know-how desse manjar se perdeu no tempo e lá ficará.
As rosetas eram feitas por tia Madalena. Eram uma massa com ovos, uma espécie de massa de pastel, que era enrolada como uma rosa, fritada e embebida com mel. Boa, mas nunca me sobrou tempo para fazer as rosetas. Até hoje, às vezes, no fim do ano eu saboreio as rosetas da Yolanda, herdeira de tia Madalena.
Hoje vou dar a receita da pizzela.